João Paulo Borges Coelho: ficção, memória, cesura

2021

Localizando confluências de suas narrativas pelo filtro de alguns títulos publicados desde 2003, poderíamos sugerir que a lente de João Paulo Borges Coelho privilegia as duas sombras do rio e sua inusitada relação com o passado, objeto de renovadas visitas; ou a crônica de um cotidiano coberto de indivíduos sem qualidades que, transitando por distintos campos de produção, indiciam a emergência do inédito na periferia do mundo; ou ainda os espelhos que não devolvem a imagem dos heróis frágeis nem das águas secas de todas as ilhas. Enfim, a sua é uma literatura do oxímoro, que sonda a contradição local para examinar – a partir de uma particular partitura – a partilha de mundos.
Ao eleger caminhos que favorecem a sobreposição de tempos e memórias, o alargamento da geografia literária, a densidade existencial de heróis e personagens secundárias, a diversificação de posturas do narrador e a desestabilização de doxas por via de uma peculiar pesquisa artística sobre o paradoxo, João Paulo Borges Coelho consolida a ficção moçambicana e amplia o código estético das letras em língua portuguesa.

 
Nazir Ahmed Can